A VIDA É REVOLUCIONÁRIA!

A VIDA É REVOLUCIONÁRIA!

Não importa qual sua crença, filosofia ou religião, a vida é revolucionária!

Por onde ela passa há transformação. A perspectiva de ver o mundo se transforma, não há outra forma de expressar para mim hoje a sensação que foi ter a vida passando por mim.

Agora entendo porque se fala tanto em portal na maternidade-paternidade.

Não é mais um entender racional, é um compreender que passa por todo o sentir do corpo e modifica o olhar. A partir daí, modifica também, toda a experiência que é existir nesse mundo.

É como se tivesse descolado do tempo linear e do espaço físico.

Os padrões sociais de comemorar a vida em partes é algo que deixa um pouco de fazer sentido, embora nos esforcemos para fazer registros de aniversário e outras datas comemorativas, quase que em um desespero de fazer o tempo parar um pouco, desacelerar.

Vivi muitas vidas em uma só, mesmo antes do meu filho, mas quando a vida passou por mim formando ele muita coisa mudou.

Várias reflexões tornaram-se urgência. Uma força propulsora.

Necessidade de parir com ele uma nova vida para mim também. Tentar prosseguir como funcionara até ali se tornava estafante. Ao mesmo tempo a solução dada pelos padrões sociais era exaustiva demais, pois beirava a uma perfeição inexistente capturada em breves momentos editados e filtrados para redes sociais ou memórias intactas fragmentadas diante da complexa existencia vital.

De repente eu percebia o quanto esses consumos fragmentavam o espaço e o tempo da vida.

Plasmavam um tempo em uma foto e expressavam uma verdade momentânea, mas que ficou congelada.

As memórias são importantes, claro! Mas é que perceber que fabricá-las, editá-las, prepará-las por vezes pode ser muito, muito cansativo.

Nenhuma das formas pré-estabelecidas servem mais ao dia a dia, as fórmulas não se aplicam mais.

A sensibilidade está aflorada, a falta de noção do espaço linear perdeu-se um pouco, há uma concretude da vida em ciclos inegáveis à minha frente que exigem presença, aliás, é só isso em geral a demanda principal: atenção, presença!

É ali, na presença, que você irá sentir a si e ao seu bebe, vocês estabelecerao seus pequenos rituais diários, você aprende a fazer as coisas com ele e não apenas para ele. E o ciclo de uma vida nova corporalmente falando é intenso e não reconhece os padrões sociais dos quais você partilhava até então: o mundo dos adultos autocentrados.

Ali está em sua frente, respirando, vivendo, aprendendo, se expressando, observando atentamente cada detalhe daquele mundo visual que se apresenta, testando novas habilidades corporais e de mundo, testando os limites do espaço que até então não tinha.

De algum modo acredito que isso é impulso de vida, natural e curiosamente vamos nos desenvolvendo testando nossas potencialidades diante de algum limite.

A maternidade me colocou em muitos limites e à medida que vou ultrapassando eles percebo que fui além do limite que pensava que minha saúde física aguentaria e percebi que posso sobreviver de outros modos, que sou mais capaz do que imaginava ser, meu corpo é mais forte do que jamais supus, a reconstrução da vida depois de ir ao limite é fantástica.

Percebi que assim como meu filho tinha seus picos de crescimento e de desenvolvimento e chegava ao limite, desejando estar junto todo o tempo buscando aconchego, segurança e conforto, com demanda de sucção elevada, dificuldade maior em se acalmar sozinho, sono mais leve e com maior dificuldade para dormir, assim, desse jeitinho, eu podia ver claramente que ele expressava uma dor, um cansaço, um Não-saber lidar, precisando do colo eu também identifiquei em mim meus picos.

Assim como ele, depois que passava pelo limite que imaginei ser meu fim, abria-se um novo horizonte, uma nova perspectiva, uma nova forma de ser.

A vida passa por aquele ciclo guiando ao limite, apenas para fazer perceber que não se trata de um limite de sobrevivência e sim o final e o início, uma morte e uma vida, um desprender-se e abrir-se à experiência nova que se apresenta. Despedir-se dos velhos hábitos carregando uma boa lembrança, mas ciente de que não poderei carregá-los.

A tentativa da reprodução não é compatível, pois diante da maternidade-paternidade não somos mais os mesmos que éramos.

Percebi isso e percebi que talvez o ser humano não seja tao racional assim, talvez fosse mais guiada pela emoção, pelo sentir, essa tal intuição.

Eu precisava me desprender dos velhos hábitos, dos velhos ideais de perfeição, do que é esperado de mim como mãe e fazer o possível dentro do limite deste ciclo que irá se transformar em breve. Logo os hábitos que tinha não serão os mesmos que tenho hoje.

Eu mudei, é natural que a vida ao meu redor mude também, aceitar as transformações é revolucionário. A concretização da impermanência diante de si expressado naquele pequeno ser que é meu filho me faz compreender que sempre tive dificuldade de fazer as pazes com a realidade, com aquilo que é hoje e agora, assim desse jeito, mesmo humano e imperfeito.

Sonho e luto por estabilidade em todos os aspectos e adivinha só?

Isso uma imagem mental, pode transformar-se em metas realizáveis, mas jamais terá uma estabilidade de um momento desenhado na minha cabeça.

A vida acontece nos detalhes que normalmente deixamos de prestar atenção brigando por vários ideiais de perfeiçao que nao cabem na humanidade que existe em nós.

A vida, assim, impermanente, revoluciona tudo à sua volta e basta permitir-se à revoluçao que ela pretende realizar dentro de ti para entregar-se verdadeiramente às doçuras que vida reserva.

Como fiz Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opiniao formada sobre tudo”.

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