O herói do romance “A náusea”, de Sartre é Antoine Roquentin, que, refletindo sobre as razões de sua própria existência e do mundo que o circunda, tem a experiência reveladora da náusea.
A náusea é o sentimento que nos invade quando descobrimos a contingência essencial e o absurdo do real. E Roquentin põe essa descoberta nas seguintes palavras:
“O essencial é a contingência. Quero dizer que, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é estar ali, simplesmente; os seres aparecem, se deixam encontrar, mas nunca se pode deduzi-los […].
Não há nenhum ser necessário que possa explicar a existência: a contingência não é falsa fisionomia, aparência que pode se dissipar; é o absoluto e, por conseguinte, a perfeita gratuidade”. É a essa tese que Sartre queria chegar:
“Tudo é gratuito: este jardim, esta cidade, eu mesmo. E quando acontece de nos darmos conta disso, nosso estômago se revira e tudo se põe a flutuar [. . .] eis a náusea”.
A vida de Roquentin torna-se privada de sentido; nenhum objetivo consegue mais orientá-la; ele existe como uma coisa, como todas as coisas que emergem, na experiência da náusea, em sua gratuidade e em seu absurdo: um sujeito sem sentido cancela de repente o sentido de todas as coisas e passam a faltar instruções para seu uso. A náusea de Sartre não está longe da angústia de Heidegger.
Se a experiência da náusea revela a gratuidade das coisas e do homem reduzido a coisa e submerso nas coisas, a analise desenvolvida em “O ser e o nada” revela, antes de mais nada, que a consciência é sempre Onisciência de algo, de algo que não é consciência. Em outras palavras, o exame da experiência mostra-nos que desde o início o ser-em-si, isto é, os objetos que transcendem a consciência, não são a consciência. Eu tenho consciência dos objetos do mundo, mas nenhum desses objetos é minha consciência: a consciência “é um nada de ser e, ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada”. O mundo é o “em-si”, é o dado “misturado de si mesmo”, “opaco a si mesmo porque cheio de si mesmo”, absolutamente contingente e gratuito (como precisamente revela a náusea).
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