Na teoria estética contemporânea, o cinema é considerado uma das formas de expressão artística mais eficazes na transmissão de ideias, valores e visões de mundo. Nesse sentido, é importante o resgate da filosofia aristotélica, a qual considera a arte um instrumento poderoso na formação pedagógica dos indivíduos. Contudo, a despeito do constitucionalismo contemporâneo brasileiro frisar o acesso aos meios de transmissão de cultura um direito social imprescindível, ainda é nítida a precariedade do usufruto do cinema pelos setores periféricos da sociedade, visto que tal serviço encontra-se cada vez mais encarecido.
Diante do exposto, percebe-se que as formas de transmissão da arte estão se tornando meras mercadorias, cujo acesso requer uma condição financeira estável. Dessa forma, o pensamento do autor alemão Theodor Adorno demonstra-se extremamente atual, pois seus ideais já afirmavam a relação inexorável entre o crescimento da Indústria Cultural e a reificação da cultura. Não obstante o fenômeno de mercantilização da arte, é imperioso o resgate da concepção democrático-republicana acerca dos direitos sociais e, sobretudo, do papel da arte na formação humanística do indivíduo e na consolidação do princípio da dignidade da pessoa humana.
Destarte, a democratização do usufruto do cinema só será possível mediante a atenuação das crescentes desigualdades sociais através do fomento de práticas associadas à igualdade material e busca do bem comum. Conforme reiterava o pensador francês Alexis de Tocqueville, o anseio pela igualdade de condições e possibilidades é um dos elementos distintivos e característicos de uma sociedade democrática. Ademais, o Papa João XXIII era categórico na afirmação segundo a qual o bem comum, compreendido enquanto a dimensão holística de oportunidades e direitos que favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana, tipifica a finalidade do Estado. Portanto, a cultura deve ser enxergada como uma parte integrante da realização do bem comum e da igualdade material, cujo elemento axiológico encontra-se na garantia do mínimo existencial para a realização da individualidade e sobrevivência do cidadão.
Em vista do que foi apresentado, é clara a necessidade de atenuar a distância existente entre os setores periféricos da sociedade e os meios de comercialização da arte. Diante disso, diversas medidas podem ser adotadas pelo Ministério da Educação, bem como pela Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania. Dentre elas, uma alternativa viável é o fomento de parcerias público-privadas com as empresas responsáveis pela exibição dos filmes. Dessa forma, as instituições privadas seriam beneficiadas com isenções fiscais caso adotassem uma postura que facilitasse o acesso dos menos favorecidos ao cinema, sobretudo, pela implementação de preços mais populares e justos em certas circunstâncias. Além disso, a inclusão de programas e projetos disciplinares na Base Nacional Comum Curricular que possibilitem a visita dos discentes aos cinemas seria de grande valia na promoção da democratização do acesso à cultura.