Quando nasceu, o vazio era cercado de grandezas, pequenezas e metades, ele era frágil e pequeno.
Durante a adolescência, muitas coisas lhe foram oferecidas, coisas boas e ruins, que ele se negou fazer ou experimentar, ele se sentiu deslocado e quis se ver longe de todos, sentia que ninguém era igual e supôs que fosse especial, mas continuou sem nada dentro de si, ao passo que crescia sem buscar motivações, sua existência era inerte.
O vazio observava de longe as possibilidades para preenchê-lo, porém, nada era tão bom, e o que parecia agradável exigia movimentos arriscados e responsabilidade com aquilo do que teria que se encher. Ao se tornar adulto, o Vazio, que nada almejava além do suficiente para mantê-lo vivo, conheceu uma Metade que sonhava se tornar um Todo, junto com ela aceitou caminhar por muitos lugares e conhecer muitas coisas, mas sempre arredio, o vazio apenas a observava.
A Metade insistia em perguntar ao Vazio do que ele queria ser preenchido, mas ele nunca sabia a resposta, então tudo que a Metade pegava para seu crescimento ela dividia com o Vazio, no início ela não perguntava se ele queria, pois o Vazio se mostrava feliz com tudo que ela oferecia, mas os espaços dentro dele nunca eram preenchidos, a Metade começou a trabalhar exaustivamente, não só para ser um Todo, mas para preencher o Vazio, e assim, sonhava que um dia seriam perfeitos e completos. Com o passar dos anos a Metade questionava: “Porque não consigo preenchê-lo?” e o vazio apenas respondia: “Eu sou diferente, não sei porque sou assim, talvez tenha a ver com os meus antepassados, com minha criação…”.
Curiosa, a metade criou planos para o Vazio conseguir absorver coisas, ela tentou aproximá-lo do conhecimento, das artes, da vida que pulsava, da família e até terapia, mas nada era suficiente para ele, que agia como se soubesse de tudo e cativava a todos por onde passava com sua imitação de Preenchido. Muito tempo se passou e a Metade decidiu consultar o Vazio para saber se ele ainda queria um pouco do que ela tinha a oferecer, e ele apenas dizia: “é você quem sabe”, depois, se deu conta que não buscava mais conquistas, porque vivia numa constante busca para preencher Vazio que nunca pediu isso a ela, percebeu, que enquanto Metade ela havia diminuído, pois doou a ele até mesmo alguns dos seus pedaços que já existiam antes de conhecê-lo.
O que se tornou a Metade da metade ainda amava o Vazio, mesmo ciente de que ele tinha consumido tudo sem nada preencher, ela insistiu buscando para ele possibilidades que ele afirmava tentar utilizar, mas sempre desistia, o Vazio conseguia ver muito e fazer pouco, a Metade da metade já deficiente de muitas de suas funções e propriedades resolveu que iria buscar novos caminhos mesmo despedaçada, frustrada e cansada. A Metade, antes de partir, agradeceu aos bons momentos e não se culpou por amar ao ponto de doar-se, mas por demorar ter coragem de admitir que um Vazio só é preenchido quando quer ser cheio de outras coisas além de si mesmo.
Ainda assim, nos últimos momentos ela não perdeu a esperança de que ele pudesse surpreendê-la com algum pedaço preenchido de algo novo. Já o Vazio, mesmo dizendo que amava a Metade, e alimentando suas esperanças por longos anos, sequer se dispôs a fazer qualquer esforço para que ela ficasse, cheio de tantas razões, mas sem qualquer atitude palpável, permaneceu em seu estado de inércia por toda a eternidade.
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