“Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo”
Algumas semanas atrás, no canto mais quieto de uma festa, em uma roda de colegas, uma amiga recém divorciada fez a seguinte indagação: “por que se deixar amar, sendo que sofrerá, de ciúmes ou da própria paixão?”. Ao chegar em casa na manhã seguinte, quase como instantâneo, comecei a procurar em meus livros a respeito dos amores rodrigueanos, um pouco de Dostoiévski, uma pitada de Freud e Nietzsche, mas eu confesso que o desfecho que tive sobre tal epistemologia partiu mais da minha experiência, e de minhas pobres e vagas ideias.
Ao longo do que chamam de história filosófica, a hermenêutica do amor já foi abordada sob diversos (e até divergentes) aspectos, desde as audaciosas epopeias gregas, até os medievais, tendo como os significados mais abordados, três palavras gregas.
A primeira, muito conhecida no contexto judaico-cristão, é o Ágape, que está a associado a partilha, admiração, algo recíproco.
Um pouco mais diferente, temos Pathos, uma paixão, uma afeição desordenada, um impulso, ou até sofrimento. Os medievais tinham um conselho para este tipo de sentimento: “ao primeiro sinal de amor, fuja!”. Pathos que, vindo a calhar, acaba desabando em patologia.
Por fim temos uma concepção bem elegante do que seria um amor carnal. Eros em si não tem um significado exato, mas compensa com uma profunda história. Ele era um deus, filho de Afrodite, a deusa da beleza, com Ares, o deus da guerra (uma junção bem característica do amor, não acha?). Ele era astuto, corajoso, mas também retratado como filho do caos, sempre em busca de intrigas. Caso não tenha lembrado, é mais conhecido como Cupido. Voltando para a semântica, Eros é bem retratado na palavra “tesão”. Isso não só no sentido sexual, mas também tesão pela vida, pelas coisas que não vive sem.
A questão do amor, é você entender que irá sofrer. Que existe a grande e real possibilidade de você, ao deixar-se apaixonar, haver uma ilusão, ou até uma traição.
O amor não é simples. Como dizia Nelson Rodrigues, “não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo“. Mediante a isso, creio que ocasionalmente a vida nos traz respostas diferentes ao caso desse afeto.
Se você tem a opção de experimentar amores que não sejam verdadeiros, ou auto forçados, ou em unico contraponto ter uma existência sozinha, viver somente acompanhado de 6 gatos, eu acho belo escolher a melancolia da solidão. Porque, do que vale um amor barato?
Portanto, se me perguntarem sobre o que é o amor, direi que a maior certeza que tenho é “não tenho a minima ideia”. Porém, se você se deixar-se esquecer no vazio desse sentimento melancólico niilista, você pode deixar muitos amores passarem por sua vida, e não aproveitá-los.
Então, se me pedissem um conselho (apesar de não gostar de dar), eu diria “viva!”, como as avós diziam, “um dia após o outro”, mas nunca se esqueça que o amor não é pra ser fácil.
O amor, de abstrato não tem nada. Ele é encarnado e concreto. O amor em si te dá um senso de projeção, e faz que você perceba e coloque as coisas nos devidos lugares. Te faz perceber que você não tem controle de cada constante, circunstância e variante em sua vida. Ele te põe de joelhos. Ele te faz se desfazer de toda pose e maquiagem que você se deu o trabalho de construir durante anos, pois tu se põe como miserável, quase um mendigo diante da outra pessoa. Você se põe como coadjuvante da própria existência.
Em verdade, você começa a entender que não tem controle, e entende sua pequenez. São nesses raros momentos de entendimento interno, de auto consciência, que o amor reflete em nosso ser.
Leia nossa indicação e post “É possível chegar a perfeição do ser humano?”
Siga nosso insta @PensarBemViverBem