Certamente você já ouviu o ditado popular, que “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. E infelizmente tenho percebido no dia-a-dia o quanto as pessoas (maioria) estão usando e abusando desse famoso ditado.
Parece que a esmagadora maioria sente prazer na ruína alheia. Que o dessabor do próximo é uma espécie de vitória para si mesmo. E que a derrocada do outro lhe traz algum tipo de conforto ou prosperidade. Não faltam exemplos no meu cotidiano, e tenho certeza que no seu também não.
Retornando do trabalho para casa em minha motocicleta, como costumeiramente faço todos os dias, testemunhei uma cena de chocar aqueles que possuem o mínimo de empatia. Em determinado ponto da rodovia Fernão Dias, logo a minha frente, vi uma nuvem de fumaça branca, que parecia não ter fim. Ao me aproximar de sua origem, já com o trânsito lento, vi que um automóvel ardia em chamas. E ao reduzir ainda mais a velocidade, percebi que próximo ao carro havia um homem desesperado tentando sem sucesso, apagar o fogo que consumia seu patrimônio. Notei ainda que ele já havia retirado tudo que estava dentro do automóvel, inclusive bolas, dessas coloridas de praia, que certamente o moço revenderia em algum local. Mas o que mais me chamou a atenção ainda estaria por vir.
Logo abaixo do veículo que queimava como brasa, à pouquíssimos metros, haviam algumas pessoas (se é que podem ser chamadas de pessoas), filmando toda a situação com seus smartphones. Todos filmavam atentamente o homem arriscando sua vida, que de alguma forma, tentava salvar aquilo que lhe custou horas de trabalho, e sacrifícios inimagináveis. Todos filmavam com um sorriso no rosto, como se naquela situação existisse alguma graça, o homem que tentava salvar aquele poderia ser sua ferramenta de trabalho, e que garantiria o pão na mesa de sua família.
E o que não faltam são exemplos dessa espécie, menores e até maiores. Podemos usar o triste caso Boechat, quando o jornalista teve sua vida e carreira interrompidas em um acidente de helicóptero. Logo após a queda da aeronave onde o apresentador estava, que se chocou contra um caminhão, diversos transeuntes e curiosos que passavam próximo ao local do choque, “disputavam” o melhor local para fotografar e filmar toda aquela tragédia. Exceto a vendedora Leiliane Rafael da Silva, que lutava bravamente para salvar o caminhoneiro que se encontrava ferido dentro da cabine de seu caminhão, e ‘que estava parcialmente destruído.
Eu poderia incansavelmente citar diversos outros casos. Mas esses dois já são suficientes para ilustrar como o amor e o respeito ao próximo tem se tornado itens cada vez mais escassos no coração, e na mente das pessoas.
Que possamos ser mais “Leiliane”, e cada vez menos, aqueles que filmavam e que nada contribuíam em ambos os casos. Não que você precise arriscar sua própria vida para ajudar o outrem. Mas não vai ser filmando e achando graça que você o ajudará. Se você encontrar com um irmão (em cristo somos todos irmãos) em situação adversa, ou não favorável, use seu smartphone somente para pedir ajuda, se necessário. Da mesma forma que a maioria conhece o ditado citado no início do texto, tenho certeza que a maior parte também conhece aquele que diz que “muito ajuda quem não atrapalha”. E se por ventura você receber algum conteúdo dessa natureza no seu celular, repreenda a pessoa que te mandou, não compartilhe e apague o arquivo.
Não vai ser compartilhando a tragédia alheia nos grupos de Whats App e nas redes sociais, que você ajudará aquele que clama por socorro. E devemos lembrar que hoje pode ser com meu vizinho. No entanto, amanhã poderá ser comigo. E tenho certeza que nem eu e nem você, gostaríamos de ser filmados e debochados, quando na verdade, precisavamos de ajuda. Estender a mão, uma palavra de conforto, um ombro amigo, ou qualquer outro meio de ajuda, poderá mudar o rumo e a vida de quem precisa de consolo.