A dor de amar: É possível lidar com a perda?

A dor de amar: É possível lidar com a perda?

Não há discussão: É impossível definir com presteza o que é o amor, talvez pela pluralidade de sentimentos que ele traz com ele, ou porque somos péssimos em atribuir um significado racional para algo tão subjetivo.

Mas o fato é que todo mundo já amou, nem que seja algo ou alguém, mas amou. Dos mais sisudos aos afabilíssimos: não dá para fugir do amor e, nesse sentido, não dá para se evadir da dor de amar. Seria bom se isso fosse possível, mas infelizmente o sofrimento faz parte do processo.

O amor e a dor

Após esta premissa introdutória, você já deve ter uma noção do que vem por aí. Então Vamos!

É gostoso falar sobre sentimentos, pode ser perigoso, mas humaniza. Ninguém consegue ser empedernido o tempo inteiro, aliás, nem deve. Contudo, o amor, como já foi sobredito, não é só regozijo – com todos os sentidos que esta palavra possa aludir -“Quem ama sofre”, diz o ditado popular. E, após algumas experiências, você percebe como esse tipo de “sabedoria da vovó” faz todo sentido.

Segundo o livro A Dor de Amar, de Nasio: “Ao contrário da dor corporal causada por um ferimento, a dor psíquica ocorre sem agressão aos tecidos. O motivo que a desencadeia não se localiza na carne, mas no laço entre aquele que ama e seu objeto amado”.

Neste livro, o autor discorre, imerso na topologia de Lacan, sobre os efeitos corrosivos de perder alguém que ama. O amor trágico, feroz e sangrento é bonito na arte, mas e suas consequências na vida real? “No luto, a dor se mistura ao amor e ao ódio”. O ódio é uma manifestação da revolta e da não aceitação da perda. Neste caso, pode ter um sentimento de culpa latente ou o desejo imperioso de culpabilizar alguém.

Eu te amo, ou seja, você faz parte de mim

O enlutado vive nesse paradoxo: ele sabe que houve um afastamento forçado, mas o amado continua vivo dentro dele, logo, como não desvanecer? É exatamente nessa direção – conceder acalento às mazelas da alma – que muitos buscam o ocultismo ou outra religião espírita. O intento é estabelecer algum tipo de contato transcendental , a fim de minimizar uma angústia sumamente profunda e hostil.

Há também outras correntes acerca do amor e sofrimento. Nietzsche, por exemplo, asseverou que todo amor é, em sua essência, amor próprio. Para o filósofo do martelo, não se ama o desejado e sim o desejo. Partindo deste pressuposto, quando há perda – seja por meio da morte ou rejeição – a ruptura maior concentra-se no próprio eu. Sofremos porque a integridade de nossa imagem narcísica foi pungentemente abalada. Por que ele não me quer mais? O que ele pensa que é para não me querer?

E a perda?

Voltemos para o luto: “O complexo melancólico se comporta como um ferimento aberto.” “Uma pulsão é um impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob pressão de forças perturbadoras externas”, Freud. O termo pulsão só aparece na obra Freudiana em 1905, mas desde o projeto de 1895, o rei da psicanálise já falava sobre excitações externas e internas.

Ou seja, na angústia e na melancolia há um empobrecimento pulsional tão angustiante que estremece e pode, inclusive, levar à morte do enlutado. “O que dói não é perder o ser amadomas continuar a amá-lo mais do que nunca, mesmo sabendo-o irremediavelmente perdido“, Livro A Dor de Amar, Nasio.

Após tudo isso, é possível ser feliz?

A felicidade pode, para muitos, representar um ideal de vida. Alguns enxergam este sentimento sob uma ótica mais realista: viver a plenitude do possível, de cada instante, sabendo que o desalento sempre virá à tona. Outros preferem viver sem se preocupar com isso. O fato é que, após uma ruptura muito violenta como a morte, parece impossível ir avante.

Uma vez, depois de uma conversa com uma moça que havia perdido os dois filhos em um acidente, ela confessou que apenas sobrevive. E, para ela, viver é exatamente isso: “sobreviver, ser civilizada e vestir alguns personagens de vez em quando.” Parece uma resposta pessimista, mas muita gente pavimenta o próprio caminho assim.

Acredito que cada um deva encontrar sua maneira de sobreviver. Aceitando a solidão e a solitude; com a ajuda de um especialista; trabalhando; cuidando do seu lar; procurando atividades e/ou crenças inebriantes à alma; amando de novo; caindo e se fortalecendo; rindo; observando a riqueza cativante dos detalhes e da simplicidade; e continuar firme neste eterno gerúndio até tudo acabar.

“Havendo amor, pode-se viver mesmo sem felicidade. Até na aflição a vida é boa. É bom viver no mundo, ainda que se viva seja lá como for”. Fiódor Dostoiévski, in Memórias do Subsolo.

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