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A ciência se cala onde inicia a fé

Um pouco de filosofia inclina a mente humana para o ateísmo, mas o aprofundamento na filosofia reaproxima a mente humana da religião”.

Francis Bacon

Isso é uma verdade matemática. A ciência nos prova e nos dá explicação para quase todas as coisas. A ciência é a arte da razão.

Quando entramos no âmbito da “fé” chegamos em um nível diferente. A ciência apenas acredita naquilo que pode provar, e como a fé não é baseado em provas, a ciência não consegue entrar neste assunto. Então podemos ver que a ciência e a religião ou fé não são contraditórias e nem inimigas, mas apenas estão em lados opostos.

Na metade do século passado onde a grande população ocidental era na sua maioria religiosa, o fervor a crença num teísmo fazia parte da vida. E não aceitar que Deus não existia era uma ofensa moral e ética. Mesmo existindo pessoas que não acreditavam em um ser divino ou espiritual, existia a opressão. E pela potência catolizada não os deixava expor essas ideias. A ideia de que todos os humanos são iguais é uma versão renovada da convicção monoteísta de que todas as almas são iguais diante de Deus. A grande maioria acreditava no seu ser espiritual superior porque não havia outros meios para se ter esperança. As pessoas se agarravam as igrejas porque não sabiam ter ou acreditar em mais nada, e mais do que isso, elas precisavam disso. Isso é natural do ser humano. Ter a necessidade de ter alguém como superior.

Na entrada de Filipos em Deltos o apóstolo Paulo, no primeiro século relatou que existia um busto na entrada da cidade com os seguintes dizeres:

A necessidade era tanta que eles tinham construído uma estátua do nada, em nome de ninguém, para um desconhecido. Eles precisavam adorar alguém ou alguma coisa. Hoje muitas pessoas vão de religião em religião para encontrar respostas as suas perguntas, aos seus anseios e talvez customizar um pouco o Deus que eles querem adorar.

No início do século dezenove iniciou-se uma era de avanço da ciência de uma forma inimaginável. Isso foi intensificado com mais afinco ainda depois das duas guerras mundiais. Nesse momento, com o avanço tão notório da ciência, o mundo viu uma esperança de que o homem podia dar a si próprio. A ciência em pouco tempo prometia cura para as doenças, retardo fenomenal do envelhecimento, fim da fome no mundo e de alguma maneira qualidade de vida e futuro prospero. E então transformaram a ciência em Deus por algum tempo. O ateísmo virou febre. Não acreditar em Deus já não era absurdo e já se tonara plausível. E com os alunos de Darwin a coisa ficava mais empolgante. Muitos saíram de suas igrejas e resolveram assumir a sua fé de não ter fé nenhuma.

Não vou ser estúpido ao ponto de dizer que a ciência não ajudou o mundo a ser um local bem melhor para viver do que a 100 anos atrás. Isso é lógico. Para exemplificar basta saber que hoje a expectativa de vida do brasileiro é de 82 anos, mas em 1912 a expectativa dos Brasileiros era de 45 anos de idade. Mesmo assim, mesmo com tanta tecnologia e a ciência conseguindo resultados espantosos, o mundo não viu a cura do câncer, o término do sofrimento, a violência sem medidas, a fome, o saneamento básico, a educação, o fim das guerras.

Quando a humanidade perdeu a esperança na ciência, ela se voltou a Deus e as igrejas. Por isso hoje ser espiritualizado virou moda. Sim, hoje é legal, é de certa forma apaziguador você dizer que é um cristão. O que muitos eram tímidos para assumir devido a uma vergonha em suas próprias crenças, hoje falam com orgulho de sua religiosidade. Essa atitude é muito significativa porque a pessoa assumir ser uma pessoa espiritualizada, sempre foi um tabu em sociedades ateístas. A esperança que as coisas podem dar certo, que um dia as coisas vão mudar e que tudo tem um significado levam as pessoas a busca de se espiritualizar. E sabe um grande motivo das religiões crescerem de uma maneira abrupta?

– A religião seca lágrimas. A ciência não.

Você nunca irá consolar ninguém em um velório falando coisas científicas que irão acontecer a partir de agora com o corpo do moribundo. Você nunca chegará para uma viúva ou alguém que perdeu seu ente querido e dirá:

– Olha, ele não está descansando. Ele simplesmente não existe mais. Ele era formado de moléculas e células que agora estão se desintegrando. E outra coisa, daqui a alguns dias os vermes começarão a comê-lo. Então é isso, não fique triste. Ele não foi para um lugar ruim. Precisando de alguma coisa é só me ligar.

Você jamais falaria isso. Mas ao contrário, normalmente a pessoa ouve:

– Ele está no céu. Deus o chamou pois era a hora dele. É mais uma estrelinha lá em cima. Ele sempre vai vigiar a gente – e todas as frases que secam lágrimas e são mais fáceis de serem aceitas por quem está passando por essa situação.

Ninguém quer morrer. E é por isso que a ciência hoje busca e sempre buscará uma forma de vivemos mais, de talvez ter uma vida milenar, quem sabe. Não queremos morrer. A morte vai de contramão contra tudo o que sentimos. Podemos ter medo da morte. Isso é natural. Mas o que não podemos é viver com pânico dela.

Muitas pessoas dizem estar preparadas para a morte, que não tem medo dela, mas pode ter certeza, ninguém está preparado para lidar com a morte. Você só aceita a morte quando você está longe dela, quando ela está na sua frente você sempre lutará para não morrer. Já perceberam que o próprio fato de se pregar uma vida após a morte é um ato para dar perpetuidade a vida?

E sabe por que de alguma forma vivemos de forma senil sabendo que a morte é inevitável? Porque todo mundo morre. Se um grupo de seres humanos não morresse, o resto da humanidade não aceitaria a morte. De uma forma mórbida, o que nos apazigua é que independente de ser bilionário ou favelado, lindo ou feio, homem ou mulher, preto ou branco, chefe ou empregado, gordo ou magro, inteligente ou ignorante, velho ou novo, todos tem o mesmo destino. Todos vão deixar de existir. Nesse quesito todos somos iguais.

Quando você se depara com o fim da vida, sua fé pode ser abalada. Neste caso, a sua fé por não ter nenhuma fé.

Muitas pessoas dizem ser ateístas, mas se você perceber bem, 90% das pessoas que se dizem ateus, não são. São pessoas ante religiosas, que se decepcionam com o Deus que a sociedade prega ou diretamente com uma entidade religiosa. É sempre bom lembrar que: “Ateu nega a existência de Deus. O cético dúvida. E o agnóstico não sabe”.

Toda a fé é racional. Toda a fé pode ser provada. A fé não é acreditar naquilo que não pode ver. Se a nossa fé realmente for forte teremos todos os critérios para prová-la. Se não consegue racionalizar sua fé, isso não é fé. É fideísmo.

Hoje as pessoas creem em um Deus que é condicionado e moldado as coisas que me fazem bem. Se eu tiver de lutar contra outra pessoa, Deus vai me ajudar. Se eu tiver de conseguir o emprego no lugar de outra pessoa que também precisa, Deus me ajudou. Se eu quiser enriquecer, Deus vai me abençoar e se eu não conseguir é porque Deus não quis.

Nós estamos criando o nosso Deus. E estamos criando o nosso Deus a nossa imagem e semelhança. Que é uma semelhança egoísta, prepotente e que apenas aceita aquilo que lhe é explicável.

Durante séculos, especificamente depois do século 15 muitos seguidores de divindades politeístas apegaram-se tanto a seu deus que acabaram por se afastar da ideia politeísta básica. Eles começaram a acreditar num deus que era único e que na verdade era o Deus supremo do universo. Porém, ao mesmo tempo, continuaram a vê-lo como tendo interesse e inclinações, e acreditando que poderiam chegar a acordo com Ele. Assim nasceram as religiões monoteístas, cujos seguidores rogam ao poder supremo do universo auxílio para se recuperar de uma doença, ganhar na loteria e vencer uma guerra.

Por que buscamos a espiritualidade?

Porque não aceitamos a vida como ela é. Também não aceitamos o fato de não existir respostas para as nossas perguntas. E quando isso acontece, nos acarinha o fato de saber que o mundo,  a prática e a crença espiritual sejam uma resposta. Mas paradoxalmente incrível que buscamos a resposta de questões que nos aflige em algo que também não conseguimos provar. Mas a nossa crença em que aquilo que poderá ser uma resposta, já nos alivia da nossa dúvida de não saber nada. Caso contrário, não teria algum sentido de viver. Só podemos entender as coisas da nossa própria perspectiva.

Muitos sabem lidar com a situação e temos que admitir que hoje e durante grande parte da história humana o que faz com que a terra não entre em um colapso existencial são as religiões. Infelizmente muitas pessoas não saberiam lidar com o fato de não existir um Deus supremo ou uma força espiritual maior. Albert Einstein frisou: “A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”. Imagine o caos que viveríamos se as pessoas não tivessem esperança para nada, se não tivessem de viver o bem em prol de uma recompensa, se não tivessem o medo de não continuarem a viver após a morte.

Dalai Lama disse: “O inimigo comum de todas as disciplinas religiosas é o egoísmo da mente, pois é a causa da ignorância, da cólera e do descontrole, que originam todos os problemas do mundo”.

Não estou condenando em nem defendendo as milhares de religiões que existem e nem a criação de dezenas por dia. A minha dúvida é:

Ao ver um ladrão ou assassino fazer o sinal da Cruz antes de cometer um crime, isso é bom ou é ruim?

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