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A arte de ler menos

Conta-se que Abraham Lincoln (1809-1865), talvez o mais importante e influente presidente dos EUA, tinha apenas quatro livros. Homem de origem humilde e instrução primária, ele se tornaria um brilhante advogado e seria responsável pela emancipação das pessoas escravizadas em seu país, o que inspiraria o mundo na abolição da escravatura. Autodidata, ele mergulhou nos estudos da Bíblia, livro no qual encontrou a fé, também em uma coletânea das obras de Shakespeare, que o ajudou a compreender a complexidade do ser humano, o livro “Os Elementos”, de Euclides, que o ensinou o rigor da lógica e os “Comentários sobre as Leis de Inglaterra”, de William Blackstone, de onde apreendeu a força dos argumentos.

Estes quatro livros, os quais conseguiu emprestados, lhe bastaram para que, de sua humilde origem de filho de camponeses, morando em um casebre de madeira à beira de uma floresta na cidade Hodgenville, Kentucky, no Condado de LaRue, se tornasse o 16º presidente dos Estados Unidos, embora tenha começado sua vida como um rude lenhador. Seu célebre discurso sobre o “governo do povo, pelo povo e para o povo”, alcançaria repercussão mundial e definiria o conceito moderno de democracia.

Em nossa sociedade, marcada pelo consumismo, por vezes confundimos quantidade com qualidade. No caso dos livros, muitas vezes compramos mais do que conseguimos ler e quando lemos isto é geralmente feito de modo superficial, na pressa do dia a dia. Alguns se vangloriam da quantidade de livros lidos como quem se autoproclama intelectual, mas terão de fato feito todas estas leituras? Ou terão passado os olhos pelas letras, apreendendo uma ou outra frase, quem sabe até com a mente distante, preocupada com outras coisas?

Talvez seja melhor ler menos! Saborear cada palavra, cada frase, refletir sem pressa sobre aquilo que está escrito e quem sabe ter uma estante menor, mas com livros que foram lidos e compreendidos, que fizeram alguma diferença em nossas vidas.

Em resposta à cultura fastfood um dia criaram o slow food. É preciso aprender a saborear a comida ao invés de meramente engoli-la. Talvez esteja na hora de adotarmos o slow reading para aprendermos a sentir o sabor dos livros ao invés de devorá-los.

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