Ensaio sobre o homem e a natureza do orgulho

Ensaio sobre o homem e a natureza do orgulho

Spinoza dizia que o âmago dos desejos e vontades do homem era(é) a autoconservação, ou seja, o desejo de manter-se, de preservar a vida, isto é, a própria vida; mais tarde Nietzsche acrescenta à filosofia de Spinoza uma outra “variante”, Nietzsche fala que além do desejo de autoconservação o homem deseja também a auto-expansão, isso é, o desejo de engrandecer a si; sentir-se maior(em todos os aspectos que não os físicos).

Inerente a esse conceito de Nietzsche digo que pode perceber-se que o homem também deseja a auto-satisfação. E com auto-satisfação quero dizer orgulho. O homem deseja ter orgulho de si, cada vez mais e mais. As vezes o Ser(do orgulho) serve para suprir a carência do Ter(Material).

 

Após esta breve introdução vamos analisar a questão em sí, isto é, analisaremos o orgulho. Por que temos orgulho? Todos sentem orgulho? O orgulho é benéfico ou nocivo? – para responder às perguntas da questão do orgulho analisaremos primeiramente o sentido fiel da palavra:

 

Orgulho

¹Sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra.

²Sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor próprio; arrogância, soberba.

 *atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros, vaidade, insolência.

 

Antes da análise dos sentidos da palavra “orgulho” direi porquê há uma correlação entre o orgulho(auto-satisfação) e o desejo ou pulsão auto-expansiva; O orgulho é per sui(por sí) um desejo auto-expansivo, um desejo que cresce cada vez mais e que cresce o indivíduo, o orgulho geralmente “nasce” presencialmente relacionado à auto-expansão tanto como causa quanto como efeito desta. Orgulho é uma “normalidade” dos homens uma das muitas coisas que pertence a todos os homens comumente.

 

  1. Sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra.

O orgulho funciona muitas vezes como o cimento que cobre as arestas dos carências e avarezas do indivíduo. Preenchemos nossas carências com valores morais ou com virtudes próprias. Por exemplo; Nietzsche em seu livro “Crepúsculo dos ídolos” fala sobre a grécia dionisíaca, onde os “jovens” entorpeciam-se com o bom viver de festas, bebidas e afins que vinham com os cultos a Dionísio. Athenas vivia em um “mundo de aparências”(semelhante ao que vivemos hoje) e Sócrates era um depravado nesse quesito, não tinha o dom da beleza e por covardia(segundo Nietzsche) supriu a sua avareza com seu conhecimento filosófico, e supriu as carências do indivíduo enquanto ser-social que tinha. Ele tinha orgulho de seu gênio e usou disso para auto-satisfação e inclusão social do seu eu na comunidade ateniense. Não posso dizer que esse é o mais belo e o mais fiel dos exemplos, mas imagino que tenha esclarecido o que estou tentando mostrar nesta dissertação.

Com o exemplo anteriormente apresentado percebe-se que o orgulho funcionou como uma ferramenta, ou melhor, uma segunda via para suprir os desejos(volições, Vontade, necessidades, etc) do indivíduo(Ser-Social). E nesse tipo de caso é por isso que o orgulho proporciona “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor/própria honra” porque o orgulho funciona como ferramenta para suprir desejos inalcançáveis, e consequentemente transpassa a sensação de realização que em casos como este são parecidos com a realização de suprir o desejo em sí.

Ensaio sobre o homem e a natureza do orgulho

O orgulho funciona também como efeito da auto-expansão(como causa) mas a causa do efeito orgulho não é necessariamente o desejo de auto-expansão do homem, e sim o além-do-eu(ou o que Zizek chama de “Grande Outro”). “Por que?” podem perguntar; O orgulho é um efeito da sociedade, é necessário pela necessidade de sociedade, os desejos que o além-do-eu nos impõe cria uma necessidade do orgulho, pois muitas vezes o ADE(além-do-eu) exige coisas que não podemos suprir de imediato, então suprimo-no com o orgulho.

Dito isso, temos dois conceito de orgulho(pelo menos até então):

¹O orgulho funciona como ferramenta que proporciona a continuidade do desejo ou volição auto-expansiva;

²O orgulho funciona como ferramenta com a funcionalidade de proporcionar ao indivíduo a realização de um desejo que ele não pode satisfazer.

 

  1. Sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor próprio; arrogância, soberba.

Muitas vezes o sentimento de realização provido do esforço para alcançar o desejo é tamanho que tentamos preservá-lo, e o orgulho nessas ocasiões serve como ferramenta da tentativa de preservação da satisfação do indivíduo.

Por exemplo: Imagine que um indivíduo estudou bastante para alcançar seu objetivo, que neste caso seria tornar-se médico, depois do desgaste e estresse excessivo dos estudos, juntos a pressão que ele pôs sobre sí ele se forma em medicina; E, será médico em pouco tempo. Ele se sente realizado e liberto, pois, terá um bom salário e se libertará de estresse, da pressão e dos estudos. Ele é parabenizado por amigos e familiares. esse amontoado de afetos e sentires gera orgulho no indivíduo; que mais tarde funciona como tentativa de perpetuar o sentimento que nasceu inerte a este orgulho; Quando perguntarem-lhe sobre sua profissão ele orgulhosamente responderá: “sou/serei médico”, e não se limitará a isso, falará também sobre o esforço que fez para chegar a ser médico. Tudo isso para que receba uma resposta semelhante a um “parabéns”, o mesmo parabéns que recebeu um tempo atrás, quando realizou sua conquista e foi parabenizado por família e amigos(o que gerou uma gratificação que ele procura por perpetuar.

Usar desse exemplo grosseiro como justificativa pode parecer incabido ou tautológico, mas o que procuro apresentar aqui são teorias providas de minha apreensão filosófica e de minhas experiências pessoais.

 

Com o que mostrei até aqui procurei justificar a dita “admiração pelo próprio mérito” que é o orgulho.

Vale ressaltar que muitas vezes usamos méritos alheios para engrandecermos a nós mesmos, como quando uma mãe fala orgulhosamente que tem um filho médico para outra mãe que tem um filho desempregado, por exemplo. Mas não me aprofundarei nisso.

 

O orgulho pode ainda transpassar-se como sentimento egoísta, nesse quesito eu opto por pensar que o orgulho funciona como o ID da consciência do indivíduo. Pois muitas vezes o orgulho nos leva ao egoísmo. Há casos onde o desejo que o ADE nos impõe é tamanho que passa a ser tornar uma necessidade exagerada, exacerbada, que ultrapassa os valores do Ego e do Superego, dando ao ID a tarefa de solucionar a carência do desejo do ADE, e isso implica ignorar(às vezes totalmente) os demais indivíduos, pois a moral cabe ao Ego e Superego. Aqui estou falando da regressão do indivíduo; quando por Volição e desejo ele regressa de um Indivíduo do Terceiro Tipo, ou, “Indivíduo Eu-Social” para o Indivíduo do Primeiro Tipo, ou “Eu-Individual”. Isso é, quando uma volição ou desejo se torna tamanho que o indivíduo passa a considerar-se individualmente e não a considerar-se indivíduo-socialmente, destarte passa de um estado de convívio social para um estado de egoísmo e individualidade, ainda que indivíduo em meio social.

Assim temos o egoísmo no orgulho, por ele funcionar como ferramenta de continuidade da auto-expansão e por necessitar engrandecer-se, isso é, ser também auto-expansivo, o orgulho pode transpassar o meio-social e tornar o indivíduo ignorante ou egoísta em determinadas situações. Seguindo este mesmo raciocínio o orgulho pode ser causa também de sentimentos soberbos e arrogantes.

 

Há alguns casos/situações especiais, que merecem espaço neste ensaio. Como quando uma pessoa utiliza do orgulho como demonstração de soberania, ou como ferramenta para incluir-se socialmente. O primeiro caso é clássico, claro, e portanto explícito; Não falarei sobre ele. Mas quanto ao segundo caso, orgulho como ferramenta de inclusão social, é interessante ser comentado.

  1. Orgulho como ferramenta de inclusão social

Há casos onde o ADE exige inclusão em determinado grupo social. E usamos do orgulho, isto é, daquilo em nós que nos satisfaz, usamos de nossos méritos e do orgulho incubido nestes para que sejamos aceitos; Mas existem casos onde é exigido de nós méritos que não temos, coisas que ainda não nos orgulhamos, a saída do indivíduo nesse caso é a mentira, ou o exagero, nosso ID logo cria uma mentira em nossa consciência e então colocamos nosso orgulho nessa deturpação de ideia, ou seja nessa mentira.

Tudo isso para atendermos ao desejo imposto elo ADE. E com isso cria-se uma tendência de perpetuação da mentira, pois esta se torna necessidade e condição para que atendamos ao nosso desejo de inclusão social.

 

A este ponto, resta-nos pouco a ser abordado, só nos resta um único e último tópico. Imagine que o indivíduo carência de méritos e seu caráter o induz a não produzir uma mentira, ou ainda aproveitando o tópico anterior, o Ade deseje inclusão social através da exclusão do orgulho nesses casos cria-se um orgulho na falta de orgulho, que é o tópico seguinte.

Ensaio sobre o homem e a natureza do orgulho

  1. O orgulho de não ter orgulho.

O título do tópico pode parecer controverso a princípio, mas não é. Pois não há como uma mente sadia não ter orgulho(isto é, absolutamente), todos nós temos orgulho é uma normalidade e muitas vezes uma necessidade do indivíduo, podemos ter pouco orgulho ou talvez não transmitir aos demais todo orgulho que temos, mas não ter orgulho é absolutamente impossível.

Mostrei no fim do tópico anterior duas alternativas onde essa manifestação do orgulho pode hipoteticamente se aplicar. Primeiramente falei do indivíduo que não tem tantos méritos para se orgulhar e que dispões de uma índole que não o permite criar/inventar mentiras para falsos orgulhos, em determinadas situações como as de inclusão social ou auto-consolação ele dirá(ou meio ou a si) orgulhosamente que não tem orgulhos, disprovirá de sinceridade em suas palavras, dirá orgulhosamente que não dispõe de méritos, se orgulhará de sua falta de orgulho, drá orgulhosamente que não é orgulhoso. Isso funciona/aplica-se  em casos finais/últimos onde o desejo de auto-expansão não encontra escapatória se não está.

Na segunda situação aproveitei-me do tópico antecedente. Existem casos onde a índole geral do meio onde o indivíduo quer participar é “pura demais” para aceitar orgulhos(pois muitas vezes o orgulho é visto como uma nocividade do meio) e para esconder o orgulho que o indivíduo em questão naturalmente tem, ele opta por fazer o mesmo do caso anterior, por ter orgulho em sua “carência” de orgulho, ou seja, orgulha-se de não ter orgulho.

 

  1. Conclusão: o orgulho é nocivo ou benéfico ou indivíduo?

 

Com os os casos e questões e questões anteriormente apresentados é fácil  responder a isto; São relativos tratando-se do caso onde o orgulho é aplicado, existem casos onde o desejo é tamanho que a consciência do indivíduo ignorará consequências para com os demais indivíduos, o que acarretará a um malefício ao indivíduo em questão(enquanto Indivíduo Eu-Social ou indivíduo do terceiro tipo). O orgulho pode apresentar-se como benefício quando trabalha em consenso com as limitações morais impostas pela sociedade ao indivíduo, isto é, quando respeita-se a ética e a moral. O orgulho é uma ferramenta facilitadora do desejo da auto-expansão(isso é, nos dá a impressão de auto-expansão quando não conseguimos atingi-la diretamente), é também causa de auto-satisfação e realização, sendo  apresentado aqui como, por excelência, parte da essência do homem e sua natureza enquanto um Ser-social.

 

Leia nossa indicação e post “Arrogância”

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